A grande probabilidade do fenômeno El Niño estar atuante no início de 2016, segundo apontam os principais centros de previsão climática do país, é um indicativo de mais um ano de seca para o semiárido do Nordeste. Embora ainda seja prematuro transformar essa informação numa previsão oficial para o próximo período de chuvas na região, meteorologistas da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) se mostram muito preocupados com a possibilidade de outro inverno fraco, sobretudo pelo fato da população estar enfrentando o quarto ano consecutivo de estiagem.

Em 2015, o Ceará e o sertão do Rio Grande do Norte, assim como toda a parte norte da região Nordeste, sofreram influência negativa do El Niño. Entre fevereiro e maio deste ano, as chuvas ficaram concentradas principalmente na faixa litorânea, com índices bastante baixos no interior. Além disso, as precipitações dessa quadra chuvosa cessaram antes do tempo, com o distanciamento da Zona de Convergência Intertropical já no início de maio.

Mais um ano de precipitações irregulares, como foi 2015, terá um impacto bastante negativo em diversos setores. Preocupação maior é com a recarga dos açudes, cujo nível só tem diminuído, em decorrência dos quatro anos consecutivos de seca. Dois dos maiores reservatórios do RN, a barragem Armando Ribeiro Gonçalves, em Assu, e o Itans, em Caicó, estão, respectivamente, com 28,88% e 8,64% de sua capacidade.

“Com uma forte probabilidade do El Niño perdurar até o ano que vem, a previsão é de um inverno abaixo da média histórica. Embora ainda faltem seis meses para 2016, esse alerta é importante para o planejamento”, diz o meteorologista David Ferran, da Funceme, acrescentando que o El Niño é um fenômeno com razoável previsibilidade de médio prazo.

Também meteorologista da Funceme, Raul Fritz informa que neste momento há indicativos de cerca de 80% de chance de atuação do El Niño no ano que vem. No entanto, ele observa que é cedo para emitir qualquer prognóstico sobre a quadra chuvosa do próximo ano, uma vez que ainda é necessário analisar a dinâmica de temperaturas do Atlântico Tropical.

Segundo dados da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos, na maioria dos anos em que há atuação do El Niño — caracterizado pelo aquecimento anômalo das águas superficiais do Oceano Pacífico Equatorial — o período de maiores precipitações no Ceará e norte do Nordeste é irregular e tende a não atingir a média climatológica.


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